ASPECTOS DA BIOLOGIA DE PORIFERA
Tedania ignis (D&M) fotografada na praia do Suape, na região
de
Madre de Deus, Bahia (Foto de Airton De Grande, aluno de Zoo1 em
1998)
Nos ambientes aquáticos, particularmente marinhos, onde vivem as esponjas
elas chamam a atenção principalmente pelas cores, formas muito variadas e pelo
modo de vida séssil, aparentemente estáticas. Um leigo dificilmente as
identificaria como sendo animais. De fato, apenas na segunda metade do século XVIII sua
natureza animal foi evidenciada, uma vez que foram observadas correntes de água e
movimentos dos ósculos.
São filtradoras ativas, pois todo o corpo é percorrido por um sistema de canais
cujo fluxo de água permite alimentação, trocas gasosas e remoção dos resíduos do
metabolismo.Este sistema aqüífero, uma autapomorfia do filo Porifera, funciona da
seguinte maneira: utilizando as diferenças de pressão a água é bombeada para dentro e
para fora de seus corpos e células com flagelos, os coanócitos, criam uma corrente
unidirecional; esta percorre muitos poros e/ou canais, passando por uma série de
filtros de tamanhos cada vez menores até que nutrientes e oxigênio sejam absorvidos; já
o sistema aqüífero de saída apresenta diâmetros cada vez maiores a fim de evitar
contaminação pelos produtos excretados.
Com este sistema aqüífero e uma organização que não ultrapassou o nível celular
(sem tecidos nem órgãos), as esponjas formam um grupo bem sucedido nos mares atuais
e sua história geológica é muito antiga. No passado, esponjas
hipercalcificadas foram importantes construtoras de recifes no Devoniano e sua
diversificada fauna do Cambriano inferior indica uma existência que remonta ao
Pré-Cambriano.
A ausência de junções intercelulares especializadas e a tendência generalizada de
suas células à totipotência, permite sua reorganização a partir de células
dissociadas, comportamento que expressa a existência de reconhecimento celular, um
fenômeno chave na evolução biológica dos metazoários.
Sendo um dos principais integrantes das comunidades bentônicas marinhas e com ampla
distribuição, desde a zona do entremarés até grandes profundidades, contabiliza-se na
atualidade cerca de 10000 espécies, no entanto, calcula-se que existam pelo
menos quatro vezes este valor. Deste modo, constatamos que as esponjas desempenharam e
desempenham um papel importante nos ecossistemas aquáticos , pois são capazes de filtrar
grandes quantidades de água (até 25 litros de água/hora), absorver matéria orgânica
dissolvida, remover 99% das bactérias circundantes, além de interagirem com outras
espécies na competição por espaço, servirem de substrato para várias espécies
associadas, contribuirem para a produção primária através da simbiose com
cianobactérias e serem potenciais biomonitoras da qualidade ambiental. Algumas esponjas
são os principais destruidores de substratos calcários.
Como as esponjas não têm tecidos nem órgãos, evidentemente não apresentam sistema nervoso, sendo que as reações são localizadas. Deste modo, a coordenação depende da transmissão de substâncias mensageiras, as quais permitem defesa contra predadores, sincronização na liberação de gametas e estabelecimento de relações simbióticas vantajosas. Por causa desses sistemas defensivos, têm sido encontradas numerosas substâncias farmacologicamente ativas - antibióticas, antitumorais e antivirais.
A diversidade também se expressa nos mecanismos reprodutivos, tanto assexuado como
assexuado, cujo desenvolvimento embrionário tem características próprias às esponjas.
No entanto lembramos que a embriologia comparada nos ensina que há soluções originais
praticamente em todos os filos.
Diante da exposto, o estudo das esponjas só pode ser fascinante. Assim, os textos deste site, apresentam certos aspectos relativos à estrutura e ao funcionamento desses animais, assim como são expostos alguns aspectos da evolução e da ecologia.
Solange Peixinho
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