ASPECTOS ECOLÓGICOS DE PORIFERA
Algumas espécies de Demospongiae colonizaram ambientes límnicos, no entanto, a grande maioria habita os mares, do equador aos polos. Para as esponjas de água doce a temperatura e o nível das águas são os principais fatores, pois influenciam o crescimento dos indivíduos. No entanto, os padrões de distribuição divergem em função da história da Terra e da atual distribuição dos fatores abióticos, tanto físicos como químicos, assim como de características biológicas próprias das esponjas. A temperatura, por exemplo, condiciona a distribuição geográfica e batimétrica. A fauna da Antártida é absolutamente distinta da fauna dos trópicos e as esponjas marinhas da classe Calcarea, estão limitadas a regiões inferiores a 100 metros. Isto porque o carbonato de cálcio solubiliza-se em águas profundas, mais frias, ao contrário da sílica, cuja solubilidade diminui em baixas temperaturas.
Pelo fato de serem sésseis e filtradoras a repartição espacial das esponjas é fortemente influenciada tanto por fatores naturais como pela qualidade da água. Sendo os mais importantes, tipo de substrato, correntes, sedimentação, conteúdo em partículas orgânicas e minerais, materiais orgânicos dissolvidos e poluentes. Por estas últimas qualidades as esponjas têm sido propostas como bio-indicadoras de poluição.
Dentre os fatores naturais condicionadores de distribuição regional, destaca-se o tipo de substrato. A maioria das esponjas estabelece-se em substratos duros, bastante variados, desde as rochas de superfície mais irregular que lisa, cordas, conchas, cascos de navios, pilares de pontes e até mesmo sobre garrafas. No entanto algumas esponjas vivem parcialmente enterradas em lama ou areia, ancorando-se por meio de feixes de longas espículas basais, a exemplo do que ocorre com algumas Demospongiae e muitas Hexactinellida. Há também certas esponjas, como Tribrachium schmidtii Weltner, do Atlântico Ocidental Tropical, com ocorrência na Baía de Todos os Santos, no litoral norte de Salvador e também no Amapá, que vive com seu corpo globoso e parte do seu longo tubo oscular enterrados em substrato arenoso, sem as longas espículas basais.Ainda com relação ao substrato, merecem destaque certas esponjas denominadas de escavadoras, uma vez que têm a capacidade viver dentro de substrato calcário. Essas esponjas empregam meios químicos e mecânicos para perfurar conchas de moluscos e substratos calcários, como rochas e corais, implicando portanto no processo de bioerosão.
A bioerosão tem interesse ecológico, paleontológico e comercial, pois muda a topografia dos recifes de corais e pode causar danos em cultivos de ostras. Ao longo do litoral de Salvador, um exame de rochas carbonáticas da zona intermareal pode revelar a existência de uma esponja do gênero Cliona, cujas papilas amarelas são vistas externamente. Na família Clionidae estão os principais responsáveis pela bioerosão, mas algumas espécies da família Spirastrellidae do gênero Siphonodyction também podem ser perfurantes.
Outros fatores podem exercer influência na distribuição. A salinidade, por exemplo, é muito importante para as esponjas que vivem na zona intermareal, sujeitas às influências das chuvas e águas carreadas do continente, mas não para aquelas comunidades que habitam o circalitoral.Um outro fator que é importante a nível regional e local é a luz: as esponjas ciáfilas geralmente são pouco coloridas, enquanto as fotófilas geralmente apresentam cores vivas.
O entendimento dos padrões atuais de distribuição também passa pelo estudo do potencial de dispersão, que nas esponjas parece ser bastante limitado. Isto porque há indícios de que as larvas de esponjas, além de terem vida curta, a fase livre-natante é muito rápida, pois logo em seguida ela se torna demersal, ou seja, rasteja sobre o fundo.Isto explicaria, em parte, a existência de comunidades de esponjas distintas, mesmo em nível local.
Assim, algumas esponjas têm ampla distribuição e por isto são denominadas oportunistas ou generalistas, enquanto outras têm distribuição restrita, são mais "especialistas" ou estenotópicas. Tedania ignis ( D&M) por exemplo é uma esponja que tem ampla distribuição na Baía de Todos os Santos, particularmente em manguezais, já uma espécie de Tetilla até agora só foi assinalada no manguezal de Barreira do Jacuruna.
Muitas Demospongiae utilizam a superfície de vários animais, de algas e até mesmo das raízes de mangues como substrato. Uma curiosa associação é relatada por Floyd Sandford no hipertexto "Sponges and Hermit Crabs", onde a associação é tripla: esponja sobre concha de molusco vazia, que abriga um paguro.
Por outro lado, as esponjas convivem com uma grande variedade de microorganismos, de animais e de vegetais, com os quais mantêm uma intricada teia de interrelacionamentos ecológicos, em muitos casos, favorecendo outros organismos e sendo útil para sua sobrevivência.Há relações de epibiose e de endobiose. Entre as primeiras podemos citar cnidários, briozoários, tunicados e até mesmo esponjas.E quanto às relações de endobiose são muito comuns e bastante variadas: as esponjas podem abrigar desde bactérias, passando por algas, até pequenos vertebrados, como certos peixes. A maioria dos simbiontes de esponjas parece utilizar o hospedeiro apenas como refúgio, outros são comensais das partículas em suspensão na água que circula pelos poros e canais.Há o clássico exemplo do casal de camarão do gênero Spongicola que vive em uma Hexactinellida do gênero Euplectella, mas também de certas espécies de poliquetos e cracas encontrados apenas no interior de esponjas. Na Baía de Todos os Santos é comum a associação de Haplosylis spongicola, um poliqueto geralmente presente em grande quantidade, com a esponja Ircinia felix, assim como de cracas, Membranobalanus declivis com a esponja, Cliona varians. Use o link abaixo - Associação de cracas com esponja - para saber mais sobre esta última associação em Salvador.
Os inúmeros compostos químicos, com funções antitumorais ou antivirais, encontrados em esponjas na atualidade constituem bases para pesquisas sobre o papel que esses compostos desempenham na biologia das esponjas, e os resultados apontam para funções de anti-predação e controle das populações de endossimbiontes.
Bibliografia Consultada:
Brusca, R. C.; Brusca, G. J. Invertebrates. USA, Massachussets: Sinauer, 1990. 922p.
Rutzler, K. The Role of Burrowing Sponges in Bioerosion. Oecologia, 1975. v. 19, p.203-216.
Sarà, M.; Vacelet, J. Écologie des Demosponges. In: Traité de Zoologie, P.P. Grassé (ed.), v. 3. n.1: Spongiaires. Masson et Cie., Paris. 1973. 462-576.
Autores: Patrícia Petitinga, Joana Paixão (monitoras 98/99) e Solange Peixinho.
Página Inicial// Porifera // Características gerais // Sistema aqüífero // Filogenia e classificação // Sponges and hermit crabs // Densidade e distribuição de cracas em esponja //