Cultivo de ciliado e rotíferos: um subsídio às aulas práticas

 

P.SILVA, J.F. PAIXÃO e S. PEIXINHO

 

 

Introdução

 

     Muitos ciliados e rotíferos têm ampla distribuição geográfica, alimentam-se de bactérias e por isto desempenham um importante papel em ecossistemas aquáticos. Por outro lado, têm sido utilizados como fonte de alimento para animais de aquário e são objeto de estudo tanto no ensino como na pesquisa.

 

     Embora paramécios e rotíferos sejam facilmente encontrados na natureza, a densidade está sempre aquém da requerida. Por outro lado, a depender da idade das infusões, normalmente utilizadas em aulas práticas, estes organismos podem até estar ausentes. À medida em que os paramécios vão desaparecendo, há o aumento das populações de rotíferos.

 

      Assim, o cultivo que iniciamos objetivou manter esses organismos por longos períodos e em quantidade suficiente que permitisse diversas preparações pelos alunos, estes em número de 30 a 50, a depender do semestre.

 

      A utilização do material biológico, acima referido, ocorre em duas aulas. A primeira, “Morfologia e Fisiologia de Protozoários de Vida Livre- Tipo escolhido Paramecium”, um estudo morfo-funcional que também visa instrumentar os alunos no uso de técnicas de coloração, e a segunda, “Alimentação de Unicelulares e Pluricelulares”, na qual busca-se relacionar os métodos de obtenção de alimento com a morfologia e o modo de vida. Nesta prática, além dos filtradores, paramécios e rotíferos, incluímos actínias como exemplos de predadores.

 

      O crescimento das populações de Paramecium sp. é garantido pela divisão binária, enquanto que o do (?) Philodina é pela partenogênese, naturalmente.

 

Material e Métodos

 

     Cultivo:

     

     O cultivo de Paramecium sp. e (?) Philodina sp. (ver classificação no quadro 1) foi iniciado em 23.4.1998, a partir de ricas infusões previamente preparadas. Sabe-se que gêneros de rotíferos, como Rotaria são comuns em infusões mais velhas (Garnett, 1953), mas também Philodina, ambos da família Philodinidae.

 

O meio de cultura utilizado seguiu as indicações contidas em Beaumont  e Cassier (1970). Ao chá de capim, obtido com 5g do mesmo fervido em 1000 mL de água durante 20 minutos e distribuído em tubos de ensaio após 24 horas, foi acrescentado um grão de arroz em cada tubo, inoculados os microorganismos, os quais foram mantidos à temperatura ambiente.

 

 

                A                                                                           B

 

      Reino Protista                                                 Reino Metazoa

        

         Subreino Protozoa                                          

                                                                                 

 

         Filo Ciliophora                                              Filo Rotifera

 

 

         Classe  Oligohymenophorea                         Classe Bdelloidea

                                                                                 

                     

          Subclasse  Hymenostomatia                         

 

 

          Ordem  Hymenostomatida                           Ordem Philodinida

                                                                                 

 

          Família Parameciidae                                   Família Philodinidae

 

 

           Gênero Paramecium  (Fig. 1)                    Gênero (?) Philodina (Fig. 2)

 

 

   Quadro 1. Classificação dos microorganismos cultivados. AParamecium,segundo Levine et al. (1980) e  Kudo (1985).B – (?) Philodina, segundo Örstan (1998).

 

                             

                              Figura 1. Paramecium sp.

 

Figura 2. (?) Philodina sp., da ordem Bdelloidea, este último termo significando sanguessuga,  origina-se do grego e refere-se  à semelhança no modo de  locomoção rastejante e contração do corpo.

 

Manutenção:

 

      A rotina de observação e manutenção ocorreu semanalmente. Foi completado com o meio de cultura, o líquido perdido por evaporação e pela coleta para observação ao microscópio e quando havia redução da densidade das populações, avaliada de modo qualitativo, era acrescentado um grão de arroz, mas também transportados os microorganismos de tubos com populações mais densas para os de populações menos densas.

 

Resultados e Discussão

 

      A metodologia empregada mostrou-se adequada, uma vez que paramécios e rotíferos ocorreram durante os nove meses de cultivo e em número suficiente para as duas aulas práticas, nos dois últimos semestres.

 

      No entanto, durante o período de cultivo pudemos constatar flutuação na densidade de ambas as espécies, em todos os tubos. Em um mesmo tubo, por exemplo, foi possível observar que em uma dada semana os paramécios eram dominantes, na seguinte havia um certo equilíbrio, para depois decrescer, enquanto os rotíferos passavam a dominar. Tal comportamento é similar à sucessão observada em infusões, onde os gêneros Rotaria  e Philodina, ambos da classe Bdelloidea, predominam nas infusões mais velhas.

 

      Deste modo, infere-se a existência de competição interespecífica. De fato, o princípio de Gause ou princípio da exclusão competitiva estabelece que duas espécies com o mesmo nicho ecológico não podem coexistir no mesmo lugar, ao mesmo tempo.

 

 Em função do objetivo do nosso cultivo buscamos então, diminuir flutuações drásticas das populações, fornecendo alimento e sobretudo periodicamente transferindo indivíduos de tubos com populações mais densas para os de populações menos densas. Com este procedimento as populações cresciam, pois o grão de arroz ao se decompor propicia a proliferação de bactérias. Estas juntamente com os nutrientes do cha de capim criam um ambiente favorável às populações recém inoculadas.

 

 

Conclusão

 

Segundo o protocolo  apresentado, o cultivo de Paramecium  e (?) Philodina é relativamente fácil, confirmando-se a sua viabilidade e garantindo,  por longo período, material biológico para aulas práticas de zoologia.

 

Em face das flutuações nas densidade das espécies cultivadas, este procedimento poderá ser adaptado para uso em aulas  de ecologia a fim de discutir aspectos sobre sucessão e competição.

 

 

 

 

Referências bibliográficas

 

Beaumont, A.; Cassier, P. Travaux Pratiques de Biologie Animale. Paris: Dunod, 1970. 472p. il. Cap. 6: Les Protozoaires – type choisi: La Paramécie ( Paramecium caudatum Ehrenberg), p. 123-144.

Garnett, W.J. Freshwater Microscopy. Londres: Constable & Co, 1953. 300  p. il.      

Kudo, R. R. Protozoologia. Traducido por Aristeo Acosta Carreon. Mexico: Continental, 1985. 905p. il.  

Levine, N.D., J.O . Corliss, F.E.G. Cox, G. Deroux, J. Grain, B.M. Honigberg, G.F. Leedale, A .R. Loeblish III, J. Lom, D. Lynn, E.G. Merinfeld, F.C. Page, G. Poljansky, V. Sprague, J. Vavra and F.G. Wallace. A newly revised classification of the Protozoa. Journal of Protozoology, v. 27, n º 1. P. 37-58. 1980

Örstan, A .LIBS – Literature Index for Bdelloid Rotifers.  URL: <http://members.aol.com/bdelloid1/deloid.htm>. 1998.

 

Agradecimentos

 

    Nossos agradecimentos a Nilson Roque dos Santos (Laboratório de Ecologia e Manguezais da UFBA) pela identificação parcial do rotífero.


OBSERVAÇÃO: este trabalho foi apresentado, sob forma de painel no XII ENCONTRO DE ZOOLOGIA DO NORDESTE, em Feira de Santana, Bahia, em 1999.

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